domingo, 16 de setembro de 2012

Sobre o aprendizado do desenho

O texto abaixo é uma tradução livre adaptada de "A note to educators and parents" (Geraldine Schwartz), trecho do livro "Drawing with Older Children and Teens" por Mona Brookes (Nova York: Penguin Putnam, 1991).

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"Quando as crianças estão aprendendo a se comunicar, os sons, gestos e expressões faciais se transformam aos poucos em linguagem, à medida que seus esforços em copiar palavras são reforçados e modelados. O mesmo acontece com o desenho e a escrita. Ao tentar copiar o que é dito importante, as crianças aprendem, e a reação dos adultos às suas tentativas os ensina sobre sua qualidade de aprendizes.

Nossa cultura costuma valorizar a linguagem verbal em detrimento da visual. Dizemos que desenhar é “coisa de criança” e, ao crescermos, descartamos essa atividade em favor de outras coisas mais sérias, adultas e importantes. E ainda condenamos o desenho por meio da “cópia”, que é o método-chave pelo qual aprendemos qualquer outra coisa. Presumimos erroneamente que as crianças devem ficar livres para descobrir as técnicas por si, e que o ensino estruturado pode interferir no processo criativo.

Você consegue imaginar uma mãe dizer ao seu bebê: “Quero que você fale ‘mamãe’, mas não me copie... invente sua própria linguagem”, ou um professor dizer a uma criança que está sendo alfabetizada: “Invente suas próprias letras”?

Sem a instrução adequada, a maioria de nós não desenvolve o desenho além das simples experimentações do desenho infantil e deixa de lado essa capacidade inata do ser humano, perdendo uma forma de comunicação potencialmente rica. Com a voz do julgamento em nossos corações, comparamos nossa habilidade esquecida na infância com as habilidades daqueles que passaram toda a vida praticando e dizemos com infantil inocência, como se isso quase não importasse: “Desenhar, eu? Não consigo desenhar nem uma linha reta”.

E ainda há um agravante: a mente humana trabalha generalizando aspectos específicos. Se uma criança for convencida de que é incompetente para o desenho, a capacidade de generalizar pode fazê-la ver-se incompetente em outros campos da sua vida. Não existe barreira maior do que a ansiedade de desempenho: o medo de parecer ridículo e de falhar reduz nossa vontade de tentar coisas novas e nos sujeita a uma patologia de limitações, na qual damos mais ênfase ao que não somos capazes de fazer do que àquilo que podemos tentar e desenvolver.

Mona Brookes, arte-educadora, ajuda os estudantes a construírem suas competências em um ambiente seguro, valorizando a diversidade de estilo e enxergando valor e beleza em diferentes resultados. Através do desenho, ela proporciona a seus alunos o prazer da realização, o que conduz à elevação da auto-estima. Generalizada para o desempenho em geral, a auto-estima ajuda a crescer com confiança e vontade de explorar.

Em pleno século XXI, nosso mundo está cheio de diferenças, diversidade e complexidade. Não sabemos ao certo o que os estudantes de hoje precisarão saber para serem bem sucedidos no futuro. Mais do que nunca, as únicas qualidades de valor real e duradouro são as capacidades de aprender criativamente, de se comunicar de forma rica e de trabalhar competências com confiança.

Antigamente, eu me perguntava se seria possível cultivar a habilidade de desenhar nas crianças. Hoje, eu digo com convicção que ela deve ser cultivada em todos: crianças, adolescentes e adultos."

- Geraldine Schwartz (prefácio de Drawing with Older Childreen and Teens, por Mona Brookes). Tradução: Liandro Roger.

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